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Comportamento

Beleza em foco: a polêmica das “Sephora Kids” e seus impactos

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crianca maquiagem - Beleza em foco: a polêmica das “Sephora Kids” e seus impactos

A cena parecia de um show internacional: mais de 80 mil pessoas lotaram o shopping American Dream, em Nova Jersey, para acompanhar o lançamento da marca de skincare da influenciadora Salish Matter, de apenas 15 anos. O público, formado em grande parte por crianças e pré-adolescentes, acampou horas antes da abertura, demonstrando a força de um fenômeno que tem ganhado cada vez mais espaço nas redes sociais: o movimento conhecido como “Sephora Kids”.

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Essa tendência, marcada por vídeos em que meninas e meninos entre 8 e 12 anos mostram suas rotinas de cuidados com a pele usando marcas de prestígio, como The Ordinary, Drunk Elephant e Glow Recipe, parece inofensiva à primeira vista. No entanto, especialistas e organizações sociais apontam que o fenômeno abre uma série de questionamentos sobre saúde, consumo e a chamada adultização precoce.

O fascínio pelo skincare entre crianças

O interesse de crianças e pré-adolescentes por produtos de beleza não surgiu por acaso. Impulsionado por influenciadores digitais e pelo apelo das redes sociais, o skincare passou a ser encarado não apenas como rotina de autocuidado, mas também como símbolo de status e pertencimento. O resultado é que muitos jovens têm trocado brinquedos por hidratantes, séruns e até maquiagens, reproduzindo comportamentos que antes eram restritos a adolescentes mais velhos ou adultos.

crianca maquiagem - Beleza em foco: a polêmica das “Sephora Kids” e seus impactos

Embora a busca por cuidados com a pele possa ser saudável, os riscos aparecem quando produtos inadequados para a faixa etária entram em cena. Cosméticos com ácidos ou ativos potentes podem causar alergias, irritações e outros efeitos colaterais. A recomendação, segundo dermatologistas, é que crianças priorizem itens básicos como sabonetes neutros, protetor solar e hidratantes próprios para o público infantil.

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Adultização e pressão estética

Além da saúde física, o fenômeno levanta preocupações sobre saúde mental. A adesão precoce ao consumo de cosméticos se conecta a um processo mais amplo de adultização, no qual a infância perde espaço para padrões estéticos e pressões típicas do mundo adulto.

Organizações como o Instituto Alana alertam que a exposição constante a conteúdos de beleza e maquiagem pode estimular comparações sociais, reforçar estereótipos e aumentar os níveis de ansiedade e insatisfação com a própria imagem. Esse movimento, fortemente impulsionado por algoritmos que priorizam conteúdos visuais e apelativos, acaba colocando crianças em um ciclo de desejo e consumo que não corresponde à fase de desenvolvimento em que estão.

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O papel da publicidade e das redes sociais

Um dos pontos mais delicados está na forma como a publicidade chega até esse público. Pesquisas mostram que meninas entre 11 e 17 anos já são impactadas de forma significativa por propagandas de maquiagem e skincare, muitas vezes disfarçadas em conteúdos de influenciadores. O marketing por trás das trends de skincare funciona de maneira sutil, mas poderosa, criando hábitos de consumo antes mesmo de a criança ter discernimento crítico para compreendê-los.

No Brasil, a legislação considera a publicidade direcionada a crianças como prática abusiva e ilegal. No entanto, as brechas no ambiente digital dificultam a fiscalização. Os conteúdos disfarçados de entretenimento e a viralização de desafios de beleza são exemplos de como o setor se adapta para continuar atingindo um público vulnerável.

Entre liberdade e proteção

O movimento das “Sephora Kids” expõe um dilema contemporâneo: como equilibrar a liberdade de expressão e consumo das novas gerações com a necessidade de proteger a infância de pressões que podem comprometer seu bem-estar? Para especialistas em comunicação e direitos da criança, a resposta passa por regulamentação mais clara, fiscalização rigorosa e responsabilidade corporativa.

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Enquanto isso, a tendência continua crescendo, reforçada pelo glamour das redes sociais e pela sedução do universo da beleza. A questão que fica é se a sociedade está preparada para lidar com os impactos desse fenômeno que, embora aparentemente lúdico, carrega riscos profundos para a saúde e para a infância.