Comportamento
Mulheres e a síndrome da supermulher: por que ainda sentimos que precisamos dar conta de tudo?

Ela acorda cedo, prepara o café, organiza os compromissos da casa e do trabalho, cuida dos filhos, entrega prazos, responde mensagens, tenta manter a aparência, controlar as emoções e, no fim do dia, ainda se sente culpada por não ter feito mais. A imagem da mulher multitarefa, forte, resiliente e sempre disponível ganhou força como símbolo de empoderamento. Mas, no silêncio entre uma tarefa e outra, muitas estão desmoronando por dentro. Esse é o retrato da chamada síndrome da supermulher, uma armadilha moderna que ainda aprisiona muitas de nós.
Apesar dos avanços em direitos, espaços e voz, o discurso da mulher que dá conta de tudo permanece profundamente enraizado. E pior: agora é adornado com filtros de sucesso e sorrisos perfeitos nas redes sociais. O que antes era exigência externa, agora também vem de dentro — como se falhar fosse perder o valor. Mas de onde vem essa necessidade de se provar o tempo inteiro?
Segundo a psicóloga e escritora Viviane Mosé, o problema está no modelo idealizado que foi construído em cima da figura feminina: “Não bastasse sermos cobradas para sermos excelentes mães, profissionais competentes e mulheres bem resolvidas, ainda colocaram sobre nossos ombros a tarefa de fazer tudo isso sorrindo. Isso é sobrecarga disfarçada de empoderamento.”
Quando ser forte vira obrigação
Muitas mulheres cresceram ouvindo que precisam ser independentes, corajosas, produtivas, vaidosas e amorosas — tudo ao mesmo tempo. Assim, quando enfrentam um limite, sentem-se fracassadas. Essa exigência constante gera sintomas silenciosos: cansaço extremo, irritabilidade, culpa por descansar e, em muitos casos, crises de ansiedade ou burnout.

A psicoterapeuta Gabriela Casellato aponta que essa síndrome está associada a um excesso de autoexigência e à crença inconsciente de que só se é digna de amor e respeito quando se entrega o máximo o tempo todo. “Muitas mulheres sentem que não podem parar, porque parar é decepcionar. E isso gera um looping mental destrutivo.”
E o mais cruel? Quando essa mulher finalmente desaba, ela mesma se julga. Afinal, tantas outras parecem dar conta. Será que o problema está nela? Esse pensamento é alimentado pela comparação constante, especialmente nas redes sociais, onde o cotidiano é recortado e editado como um filme de sucesso. Mas a realidade, como sabemos, é muito mais densa do que um story de 15 segundos.
Quando tudo vira obrigação, até o autocuidado pesa
A pressão por estar bem o tempo todo contaminou até mesmo o universo do bem-estar. Dormir bem, se alimentar com equilíbrio, praticar meditação e yoga, fazer skincare e manter a saúde mental em dia viraram novas metas que, quando não cumpridas, também geram frustração.
É como se até o cuidado com si mesma tivesse que seguir um roteiro de desempenho. O descanso vira tarefa. A terapia vira obrigação. A felicidade vira meta.
Por isso, mais do que nunca, precisamos resgatar o direito de sermos humanas. De falhar. De cansar. De pedir ajuda. De não querer dar conta de tudo. De sermos inteiras mesmo quando não estamos impecáveis.
Como quebrar o ciclo da superexigência?
O primeiro passo é reconhecer o padrão. Observar em que momentos você está dizendo sim por medo de decepcionar ou está se sobrecarregando por vergonha de mostrar vulnerabilidade. O segundo é começar a praticar a autoescuta, entender seus limites e respeitá-los. Isso não é fraqueza. É maturidade emocional.

Também é importante se cercar de ambientes e pessoas que validem sua humanidade — não apenas sua produtividade. Conversar com outras mulheres, compartilhar angústias e acolher as imperfeições umas das outras é um dos caminhos mais potentes para romper esse ciclo silencioso de exaustão.
Você não precisa provar nada para ninguém
A verdadeira revolução começa quando a mulher entende que não precisa provar que é forte o tempo todo. Que está tudo bem não dar conta. Que ela tem o direito de descansar, recusar, pausar e ainda assim ser suficiente.
A síndrome da supermulher só se dissolve quando resgatamos a autenticidade e desconstruímos a ideia de que só merecemos valor quando estamos em modo performance. Amar a si mesma também é dizer “hoje, eu não vou conseguir” e, ainda assim, se abraçar com carinho.

Maira Morais, é Mãe, Makeup e influenciadora digital que se destaca no universo da beleza por sua criatividade e técnica refinada. No mercado a anos, decidiu compartilhar dicas de maquiagens, beleza, maternidade e demais inspirações para o universo das mulheres.




