Moda
Muito além do “lookinho”: a Amazônia inspira moda e propósito no SPFW

Resumo
O estilista Leandro Castro apresentou a coleção Gaiafilia no SPFW, unindo moda e biodiversidade da Amazônia em parceria com o Sebrae e empreendedores de Santarém (PA).
As peças agênero foram criadas com palhas, sementes, cuias, madeiras e látex amazônico, exaltando o respeito ao tempo e aos ciclos da natureza.
Marcas como Nunghara Biojoias, Coomflona e Trançados do Arapiuns levaram suas matérias-primas e tradições às passarelas, mostrando o poder criativo das comunidades.
O projeto Iconografia Local, coordenado por Walter Rodrigues, conecta cultura e produção, promovendo o conceito de envolvimento sustentável na moda brasileira.
Gaiafilia marcou o SPFW como símbolo de uma moda com propósito, que transforma a floresta em arte e reafirma a força do design amazônico no cenário nacional.
O São Paulo Fashion Week foi palco de uma celebração inédita entre moda e natureza. Na quinta-feira (16), o estilista Leandro Castro apresentou a coleção Gaiafilia, criada em parceria com comunidades e empreendedores de Santarém (PA). A iniciativa integra o projeto Bioma Amazônico, desenvolvido pelo Sebrae Nacional sob coordenação de Walter Rodrigues, da Assintecal, que há anos trabalha para traduzir a identidade visual e material dos territórios brasileiros em criações contemporâneas.
Com 30 looks agênero, Gaiafilia traz texturas, cores e formas inspiradas na floresta. As peças utilizam palhas da comunidade Coroca, cuias da Aíra, madeiras de manejo florestal, acessórios de sementes e látex amazônico, uma combinação que faz da passarela um verdadeiro ecossistema de design sustentável.
Moda que nasce da terra
Para Leandro, Gaiafilia — palavra que une “Gaia”, a mãe-terra, e “filia”, amor — representa uma moda que respeita o tempo e o ciclo da natureza.
“A moda como arte tira da terra o que ainda não foi visibilizado. Trabalhar com as comunidades me ensinou o tempo das mãos. Às vezes o material só existe quando a natureza pode oferecer”, reflete o estilista.

A experiência com o Sebrae não é novidade para ele. “Sei o quanto as ferramentas e as conexões que o Sebrae oferece fortalecem o trabalho criativo e produtivo. O que encontrei em Santarém foram empreendedores prontos para essa troca”, completa.
Da Amazônia para o mundo
Entre os parceiros de Leandro estão Nunghara Biojoias, Coomflona, Cuias Aíra, Biojoias Natureza Viva e Trançados do Arapiuns. Cada um levou à coleção uma parte de sua história e de sua matéria-prima, transformando o desfile em um tributo vivo à biodiversidade amazônica.
Natashia Santana, fundadora da Nunghara Biojoias, ainda se emociona ao lembrar o momento em que viu suas criações desfilando no SPFW:
“Ver o trabalho da Nunghara na passarela é como ver a floresta ganhar forma e reconhecimento. Cada semente carrega a nossa história, das mulheres que coletam, das mãos que tecem e de uma Amazônia que cria com propósito.”
As peças da marca foram confeccionadas com sementes da saboneteira de macaco, semelhantes a pérolas negras, que juntas formam roupas pesando até 12 quilos.
Sustentabilidade com alma brasileira
A Coomflona (Cooperativa Mista da Flona Tapajós) também teve destaque. A cooperativa trabalha com o manejo florestal sustentável, produzindo mantas de látex — o chamado “couro ecológico” — e peças de movelaria usadas por Leandro na coleção.
“Ver nossa matéria-prima nas criações do Leandro foi algo maravilhoso. A gente vive da floresta e ver esse reconhecimento é motivo de emoção e orgulho”, conta Arimar Rodrigues, coordenador da cooperativa.
Já a Associação Trançados do Arapiuns levou à passarela o trançado artesanal da fibra do tucumã, em tons naturais e de jenipapo.
“Quando vi o resultado, me emocionei. Foi uma surpresa linda. É a nossa história, o nosso trabalho, o nosso território sendo valorizado”, relata Nilena Guimarães, representante da associação.
Moda como ferramenta de transformação
O projeto Iconografia Local, liderado por Walter Rodrigues desde 2016, une cultura e produção. No Pará, o programa envolve 19 empreendimentos que, com o apoio do Sebrae, desenvolvem produtos que carregam valor simbólico e identidade regional.
“Na Amazônia, não falamos de desenvolvimento sustentável, mas de envolvimento sustentável — aprender com quem cuida da floresta há séculos e construir juntos algo contemporâneo”, explica Walter.
O resultado desse trabalho poderá ser visto também no livro Bioma Amazônico, que será lançado durante a COP30, em Belém, como registro dessa colaboração entre arte, natureza e empreendedorismo.
Um novo mapa da moda brasileira
A coleção Gaiafilia representa um marco simbólico: mostra que a moda nacional está se reconfigurando a partir das raízes. A passarela do SPFW se tornou território de encontro, aprendizado e reconhecimento — onde cada fibra, semente e textura carrega a alma de uma floresta viva.
O desfile reforça uma mensagem poderosa: a moda brasileira pode ser sustentável, diversa e, acima de tudo, humana.
Como resume Walter Rodrigues: “Tudo o que está aqui — as roupas, as joias, os móveis — mostra que sustentabilidade é prática, não discurso.”

Especialista em Moda e estilo pessoal, Clara é apaixonada por transformar o guarda-roupa de suas leitoras em uma expressão autêntica de sua personalidade. Formada em Design de Moda, Clara escreve com o intuito de trazer dicas acessíveis e práticas, que valorizam cada tipo de corpo e estilo. Suas matérias vão além das tendências: Clara acredita que a moda é uma forma de empoderamento e autoconhecimento, inspirando leitoras a se expressarem com confiança.



