Costura é o novo autocuidado: hobby ganha força entre jovens cansados da vida online

Costurar já foi coisa de avó, já foi obrigação doméstica, já foi sobrevivência. Mas hoje, curiosamente, é sinônimo de liberdade. Em meio a uma geração hiperconectada e frequentemente sobrecarregada pelas redes sociais, a costura manual voltou com força total — e está conquistando os corações dos jovens, principalmente das mulheres, como uma forma de se expressar, relaxar e se reconectar com algo palpável. Assim como o vinil voltou às prateleiras e as máquinas fotográficas analógicas reapareceram no feed, o ato de costurar se transformou em uma resposta sensível à vida digital excessiva.

Para a psicóloga e terapeuta ocupacional Thais Faria, essa retomada da costura tem tudo a ver com bem-estar emocional. “Ao costurar, a pessoa se vê presente, focada em um ritmo orgânico. Isso reduz a ansiedade e aumenta a autoestima, pois o resultado é concreto, visível e feito com as próprias mãos”, analisa.

Criatividade com identidade: a moda feita por você

Quem entra nesse universo logo percebe: costurar é muito mais do que saber dar ponto reto ou fazer barra de calça. É também uma porta de entrada para a moda autoral, para o reaproveitamento de roupas antigas, para a descoberta do próprio estilo — e até mesmo para pequenos negócios. Com a popularização dos tutoriais online e a influência de perfis no TikTok e no Instagram que transformam a costura em algo descolado e acessível, jovens têm se sentido encorajados a aprender desde o básico até técnicas mais avançadas, como modelagem, patchwork e bordado.

E o melhor: sem a obrigação de acertar tudo de primeira. Nesse novo jeito de viver a costura, o erro não é fracasso, é parte do processo criativo. Cada peça feita à mão carrega afeto, intenção e um pouco da personalidade de quem a criou.

A estilista Luana Guedes, idealizadora do projeto Costura Viva, reforça: “As novas gerações estão sedentas por experiências reais. Costurar oferece justamente isso — você se desconecta do celular, se reconecta com o tempo e vê algo nascer de você. É quase mágico.”

Um respiro entre agulhas, linhas e tecidos

Enquanto muitos hobbies exigem grandes investimentos ou habilidades complexas, a costura pode começar de forma simples, com materiais acessíveis. Um pedaço de tecido, uma agulha e linha já bastam para dar início a essa jornada criativa. A partir daí, o aprendizado é quase terapêutico: descobrir os pontos, ouvir o som da tesoura, escolher o tecido ideal. Há um certo encantamento em ver os próprios dedos construindo algo tangível — ainda mais quando o tempo parece correr tão rápido no mundo digital.

A prática também carrega uma simbologia poderosa de autocuidado. Reservar um tempo para criar com calma, longe da pressão das notificações, tem se mostrado um ato de amor-próprio. Para quem sofre com ansiedade ou está em busca de equilíbrio, a costura funciona como uma âncora emocional, além de um prazer estético.

Como começar no mundo da costura?

Diferente do que muitos pensam, não é preciso uma máquina profissional ou um ateliê completo para começar. Há quem inicie com pequenos reparos em roupas, customizações em peças do armário, ou até bordados simples em panos de prato — o importante é se permitir. Aplicativos e vídeos curtos ensinam o passo a passo para iniciantes, enquanto comunidades virtuais oferecem suporte, dicas e muita inspiração. Os brechós também viraram aliados, oferecendo peças baratas que podem ser desconstruídas e recriadas com um toque pessoal.

Para quem deseja ir além, cursos livres e oficinas presenciais também são uma excelente oportunidade de aprofundar técnicas e conhecer outras pessoas apaixonadas pelo universo da costura. A troca de experiências costuma ser um estímulo a mais para manter a prática viva e divertida.

Uma moda mais consciente começa com pequenos pontos

Mais do que um passatempo, a costura vem se consolidando como um manifesto silencioso contra o consumo desenfreado e a cultura do descarte. Ao fazer uma peça do zero, ou dar uma nova vida a uma roupa antiga, os jovens redescobrem o valor do tempo, da paciência e da sustentabilidade. E nesse processo, criam não apenas roupas — mas também histórias.

Em tempos de inteligência artificial e excesso de telas, costurar é quase um ato de rebeldia poética. Um resgate do toque, do olhar atento, da beleza nos detalhes. E talvez, no fim das contas, seja isso que torne esse hobby tão atual: a chance de pausar, respirar e se reconectar com o que realmente importa — com o que somos, com o que sentimos e com aquilo que podemos criar.

Clara Mendes

Especialista em Moda e estilo pessoal, Clara é apaixonada por transformar o guarda-roupa de suas leitoras em uma expressão autêntica de sua personalidade. Formada em Design de Moda, Clara escreve com o intuito de trazer dicas acessíveis e práticas, que valorizam cada tipo de corpo e estilo. Suas matérias vão além das tendências: Clara acredita que a moda é uma forma de empoderamento e autoconhecimento, inspirando leitoras a se expressarem com confiança.