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Comportamento

40% das mulheres brasileiras não veem agressões sofridas como violência de gênero

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violencia mulher - 40% das mulheres brasileiras não veem agressões sofridas como violência de gênero

Apesar de o tema estar em pauta há anos, o Brasil ainda enfrenta um desafio profundo: grande parte das mulheres não reconhece as violências que vive no cotidiano. O novo Índice de Conscientização sobre Violência contra as Mulheres, lançado pelo Instituto Natura e pela Avon, revela um retrato preocupante. Quatro em cada dez brasileiras não identificam agressões que sofreram como formas de violência contra a mulher, e mais da metade da população feminina afirma não ter informação suficiente para orientar ou ajudar uma vítima.

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A pesquisa, realizada entre junho e agosto de 2025, ouviu mais de quatro mil pessoas em todo o país, de diferentes regiões e classes sociais. Os dados mostram que, embora 98% das entrevistadas afirmem que reagiriam em caso de violência — principalmente chamando a polícia —, apenas 73% das que sofreram agressão realmente buscaram ajuda. A maioria preferiu resolver a situação de forma privada, sem acionar autoridades.

Violência que não deixa marcas

Para especialistas do Instituto Natura, o problema está na dificuldade de reconhecer formas de agressão que não envolvem violência física, como a psicológica, moral e patrimonial. Muitas mulheres não se veem como vítimas, mesmo quando sofrem controle, humilhações, chantagens ou restrições financeiras.

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“Há uma compreensão limitada de violência, geralmente associada apenas a ferimentos visíveis. Quando os diferentes tipos são explicados, a identificação aumenta”, afirma a antropóloga Beatriz Accioly, líder de Políticas Públicas pelo Fim da Violência contra Meninas e Mulheres. Segundo ela, saber que a violência existe não significa estar consciente sobre ela. “Conscientização é quando conhecimento, valores e atitudes se alinham. Só assim é possível transformar a sociedade.”

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O estudo ainda mostra que campanhas de conscientização têm papel decisivo nesse processo. Entre os que se lembram de terem visto alguma campanha, 42% disseram que passaram a entender melhor o que é violência de gênero, e 37% descobriram como e onde denunciar.

Quando o amor vira controle

Mesmo com o aumento das discussões sobre igualdade e respeito, muitos comportamentos abusivos continuam sendo naturalizados. A pesquisa aponta que 60% das pessoas ainda acreditam que problemas de casal devem ser resolvidos apenas entre os dois, e 15% dizem que não ajudariam uma mulher por achar que “não é da sua conta”.

Esse traço cultural reforça a ideia de que ciúme é prova de amor e que agressões verbais são apenas “excesso de emoção”. Segundo Accioly, essa mentalidade faz com que o ciclo da violência se mantenha, dificultando denúncias e enfraquecendo políticas públicas. “Enquanto a sociedade continuar vendo a violência como um problema doméstico e não como crime, será impossível avançar”, ressalta.

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Uma dor que atravessa o país

Os resultados regionais também chamam atenção. Na Amazônia Legal, o nível de conscientização é ainda menor, o que expõe desigualdades estruturais e a falta de políticas eficazes. O Instituto Natura afirma que tem trabalhado para apoiar governos locais na criação de ações específicas. “Não adianta encorajar as mulheres a buscar ajuda se o Estado não estiver preparado para acolher e proteger”, explica a antropóloga.

Quando a violência chega em casa

A urgência do tema foi ilustrada recentemente pelo caso do narrador esportivo Gabriel Carriconde, de Curitiba, que denunciou publicamente a agressão sofrida por sua mãe, Maria dos Milagres Araújo. Ela foi expulsa de casa pelo companheiro após descobrir uma traição.

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“Minha mãe foi agredida fisicamente e expulsa de dentro da própria casa. É revoltante e representa o tipo de violência doméstica que destrói vidas e precisa ser combatida com firmeza”, declarou o narrador.

A vítima foi acolhida na Casa da Mulher Brasileira, onde recebeu atendimento jurídico e psicológico. O caso ganhou repercussão nacional, e Carriconde decidiu falar publicamente para inspirar outras famílias a denunciarem. “Falar é um ato de amor e de coragem. O silêncio protege o agressor. Quando uma mulher é agredida, toda a sociedade é ferida junto”, afirmou.

COMO BUSCAR AJUDA

  • No caso de urgência, ligue para o 190
  • Para denúncias, ligue para o 180
  • Em Curitiba, a Casa da Mulher Brasileirapresta atendimento e acolhiment. Fica na Avenida Paraná, 870, Cabral. Telefone: (41) 3221-2701 / 3221-2710. Ou pelo site https://www.curitiba.pr.gov.br/servicos/casa-da-mulher-brasileira-de-curitiba/400
  • Na Ouvidoria das Mulheres, por meio de um formulário online.
  • Projetos como Justiça de Saia, MeTooBrasil e Instituto Survivor dão apoio jurídico e psicológico para as mulheres vítimas de abuso e violência doméstica.