Comportamento
IA na Mochila: Por Que 70% dos Alunos Já Usam Ferramentas em Trabalhos Escolares?

Resumo
• Sete em cada dez estudantes já utilizam IA na produção de trabalhos escolares, transformando o modo de aprender e levantando debates sobre ética e autonomia.
• Professores como Amanda Sousa defendem que o caminho não é proibir a tecnologia, mas ensinar seu uso crítico e responsável dentro da rotina escolar.
• A desigualdade de acesso ainda é grande, e muitas escolas recorrem a atividades “desplugadas” para ensinar lógica e fundamentos da IA quando faltam computadores.
• Especialistas como Allan Pscheidt alertam para o risco da “dívida cognitiva”, quando o uso acrítico da IA substitui o esforço real de aprendizagem.
• Universidades já enfrentam casos de uso indevido da tecnologia, mostrando que o desafio vai além do básico e exige novas regras, orientações e responsabilidade acadêmica.
A inteligência artificial deixou de ser apenas um recurso tecnológico distante e passou a fazer parte do cotidiano escolar com rapidez impressionante. Entre trabalhos, resumos e pesquisas, ela se tornou uma espécie de “novo caderno digital” para a maioria dos adolescentes. Segundo a pesquisa TIC Educação, sete em cada dez estudantes brasileiros já utilizam ferramentas de IA como apoio para atividades da escola. O número revela muito mais do que uma tendência: mostra uma mudança estrutural na forma como os jovens aprendem, pesquisam e lidam com o conhecimento.
Curiosamente, o fenômeno se apresenta de forma tão natural que, muitas vezes, passa despercebido — até que um professor percebe que o texto entregue por um aluno não combina com o seu estilo real de escrita. Ou até que um estudante, acostumado a respostas instantâneas, se vê diante da necessidade de explicar oralmente um trabalho que não produziu de verdade.
Entre fascínio e cautela: a nova sala de aula
A sedução da IA é real. A velocidade com que ela entrega respostas, cria textos e organiza ideias encanta qualquer pessoa que já passou horas diante de um trabalho escolar complicado. Mas esse encantamento traz consigo uma série de dúvidas legítimas. Como manter a autonomia intelectual dos alunos? A tecnologia facilita ou atrofia o pensamento crítico? E qual deve ser o papel das escolas diante dessa mudança?

Para a professora Amanda Sousa, que integra as disciplinas de IA, Biologia e Projeto de Vida no Piauí, a resposta não está em proibir, mas em educar. “É importante que os alunos entendam como funciona e reflitam sobre os usos éticos”, afirma. No estado, a disciplina de inteligência artificial se tornou obrigatória no Ensino Médio, acompanhada de um investimento bilionário em formação de professores.
O secretário de educação do Piauí, Washington Bandeira, reforça essa direção ao afirmar que a meta é formar jovens competitivos para um mercado cada vez mais tecnológico. Para ele, preparar o aluno para essa nova realidade começa no contato direto com a ferramenta.
A desigualdade que se esconde por trás da tecnologia
Mesmo com a expansão da IA nas escolas públicas, a estrutura básica ainda é frágil em muitas regiões. A escola onde Amanda leciona, por exemplo, tem apenas vinte computadores para turmas com mais de quarenta alunos, além de quedas frequentes de energia. Diante dessa limitação, parte das aulas ocorre de maneira “desplugada”. Atividades que simulam algoritmos por meio de classificações manuais, como a “Árvore de Decisão”, ajudam os estudantes a compreender conceitos fundamentais de IA de forma criativa e acessível.
O objetivo é mostrar que tecnologia não é sinônimo de computador — e que a lógica capaz de mover máquinas também nasce do raciocínio humano.
IA como ferramenta, não como atalho
O professor e pesquisador Allan Pscheidt, especialista em Inteligência Artificial na Educação, reforça que a integração entre IA e aprendizado não acontece substituindo métodos, mas complementando processos. Ele lembra que a IA “alucina” — termo técnico para indicar que ela pode apresentar informações incorretas — e que justamente por isso o aluno precisa aprender a verificar fontes, comparar dados e checar a veracidade do que recebe.
Para Pscheidt, o risco maior é imaginar que toda atividade precisa passar por ferramentas de IA. Ele alerta que, em muitas situações, o bom e velho círculo de conversa no chão continua sendo o método mais eficaz para estimular reflexão.
Quando o atalho cobra seu preço
As universidades já começam a sentir os efeitos dessa mudança. Enquanto o plágio tradicional diminui, cresce o número de trabalhos produzidos integralmente por IA — o que provoca um novo tipo de debate sobre autoria, responsabilidade e ética acadêmica.
O caso de Gabriel, aluno de Direito em uma instituição particular, ilustra bem essa realidade. Sem conseguir explicar o trabalho entregue — escrito integralmente por IA — o estudante foi expulso no quarto semestre. Ele admite que nunca quis seguir carreira jurídica e que a ferramenta acabou funcionando como uma “muleta” temporária para um curso que não o motivava. A consequência, porém, foi pesada.
O advogado Leandro Bernardes, especialista em Direito Penal Empresarial, explica que uma universidade tem autonomia para aplicar sanções administrativas quando o aluno descumpre regras internas sobre o uso de IA. Em casos mais graves, o uso indevido pode até gerar problemas civis, especialmente quando há violação de direitos autorais.
Quando a tecnologia vira aliada — e não inimiga
Para a professora Leonilia de Cássia Alves Luiz, da Escola Estadual Aroldo Donizetti Leite, a melhor forma de lidar com a IA é criar debate. Em suas aulas de reforço, ela usa a ferramenta para gerar respostas multidisciplinares e, em seguida, discute com a turma quais informações fazem sentido, quais precisam ser ajustadas e como analisar criticamente o que foi produzido. O que parece simples transforma o aluno em protagonista do próprio processo de aprendizagem.
O reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, defende que a IA é inevitável e precisa estar dentro dos currículos — especialmente em áreas como Medicina, onde a tecnologia já impacta diagnósticos, exames e tratamentos. Para ele, manter práticas antigas diante de um mundo que mudou é inviável.
O que realmente está em jogo
A discussão sobre IA nas escolas não é sobre permiti-la ou proibi-la. É sobre ensinar jovens a conviver com ferramentas poderosas sem abrir mão do pensamento crítico, da autoria, da ética e da capacidade de interpretar o mundo por conta própria.
A inteligência artificial já faz parte do presente, e cabe à educação — professores, gestores e alunos — aprender a dialogar com essa nova realidade. Como bem sintetiza o próprio ChatGPT: a IA nas escolas não deve ser vista como ameaça, mas como oportunidade para preparar novas gerações para um futuro que, na verdade, já começou.

Social Midia e crítica de cultura pop, Renata domina o mundo das fofocas e novelas como ninguém. Com uma trajetória em grandes portais de entretenimento, ela traz uma visão divertida e crítica sobre os bastidores do universo das celebridades e das tramas de novelas. Renata é conhecida pelo seu tom bem-humorado e envolvente, que leva os leitores a se sentirem parte dos acontecimentos, discutindo os detalhes de suas novelas favoritas e compartilhando curiosidades imperdíveis das estrelas.




