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Comportamento

Sono em risco: a realidade da insônia que atinge mulheres no pós-menopausa

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insonia menopausa - Sono em risco: a realidade da insônia que atinge mulheres no pós-menopausa
Resumo

• O estudo latino-americano revelou que mais de 20% das mulheres no pós-menopausa enfrentam insônia ligada a alterações hormonais e sintomas vasomotores.
• Especialistas explicam que a queda do estrogênio e da progesterona afeta o sono, intensifica ondas de calor e aumenta o risco de apneia.
• Mulheres com IMC mais alto, comorbidades e menos acesso à terapia hormonal são as mais impactadas pelos distúrbios do sono.
• O tratamento ideal combina reposição hormonal, higiene do sono, mudanças no estilo de vida e terapia cognitivo-comportamental.
• A busca por ajuda médica é essencial quando a insônia compromete a rotina, o humor e a saúde emocional ou cardiovascular.

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A promessa de noites tranquilas e oito horas de descanso parece cada vez mais distante para muitas mulheres que atravessam a menopausa. É uma fase marcada por transformações profundas no corpo, e uma das mais silenciosas — mas devastadoras — é a dificuldade para dormir. Segundo um estudo latino-americano recente, publicado no periódico Climacteric, 20,6% das mulheres no pós-menopausa relatam distúrbios significativos do sono, especialmente a insônia.

A ginecologista Dra. Ana Paula Fabricio, especialista em Ginecologia e Obstetrícia (TEGO), explica que o sono costuma ser uma das primeiras funções afetadas pelas flutuações hormonais típicas desse período. “A insônia é altamente prevalente e impacta diretamente a qualidade de vida. Ela está muito ligada aos sintomas vasomotores, como ondas de calor e suores noturnos, que interrompem o descanso repetidas vezes”, afirma.

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Além do incômodo imediato, o impacto da insônia vai muito além do cansaço do dia seguinte, prejudicando a produtividade, o humor, a disposição e até aumentando riscos cardiovasculares. É um efeito dominó que pode atravessar meses e, para muitas mulheres, anos.

O que o estudo descobriu sobre o sono feminino no pós-menopausa

A pesquisa analisou dados de 1.185 mulheres latino-americanas, com média de 57 anos e cerca de nove anos desde o início da menopausa. As características observadas deixam claro que a insônia nessa fase não ocorre de forma isolada, mas em um contexto complexo que envolve saúde física, hormonal e emocional.

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Entre as participantes que relataram problemas de sono, surgiram fatores em comum: IMC mais alto, maior tempo de pós-menopausa, maior frequência de tabagismo, presença de comorbidades e menor uso de terapia hormonal. Mulheres que dormiam mal também tinham menos parceiros fixos e relatavam sintomas vasomotores mais intensos — especialmente os famosos “fogachos”, responsáveis por despertares bruscos ao longo da noite.

“Estamos falando de um problema que afeta a saúde como um todo”, reforça a Dra. Ana Paula. “A insônia nessa fase não apenas desgasta emocionalmente, mas está ligada também ao aumento de riscos cardíacos e até de mortalidade.”

Como os hormônios alteram o sono – e por que isso pesa tanto

Para compreender por que o sono se desestrutura na menopausa, é preciso olhar para o papel das mudanças hormonais. O otorrinolaringologista Dr. Paulo Reis, especialista em Medicina do Sono, reforça que a queda dos hormônios femininos interfere diretamente nos mecanismos de descanso.

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“A progesterona tem um efeito naturalmente relaxante”, explica. “Quando seus níveis caem, adormecer se torna mais difícil. Já o estrogênio influencia a regulação térmica e o humor. Sua diminuição favorece ondas de calor intensas que acordam a mulher inúmeras vezes durante a noite.”

Ele alerta também para um fator pouco discutido: o aumento expressivo da apneia do sono após a menopausa. “Muitas mulheres relatam acordar cansadas mesmo dormindo várias horas. Isso acontece porque o sono não atinge as fases mais profundas e reparadoras, frequentemente devido à apneia não diagnosticada.”

Por que tantas mulheres deixam de buscar tratamento?

Além das questões físicas, há também barreiras culturais e acesso limitado a tratamentos eficazes. A Dra. Ana Paula contextualiza que, em vários países da América Latina, a terapia hormonal ainda é pouco utilizada — seja por medo, falta de informação ou ausência de acompanhamento especializado.

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“Muitas mulheres recorrem a fitoterápicos, mas eles não substituem a reposição hormonal em casos que realmente precisam desse suporte”, observa a ginecologista. “A terapia hormonal pode reduzir ondas de calor e melhorar o sono, mas deve ser avaliada individualmente e acompanhada por um médico.”

Sono melhor exige uma abordagem integrada – e não uma solução única

O consenso entre os especialistas é claro: não existe uma fórmula mágica. O tratamento precisa unir reposição hormonal (quando indicada), mudanças de estilo de vida e atenção cuidadosa à saúde mental.

O Dr. Paulo Reis reforça que o primeiro passo é identificar se há distúrbios associados, como apneia, síndrome das pernas inquietas ou ansiedade. “O sono é multifatorial. Quando ele está comprometido, precisamos olhar para o corpo inteiro.”

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Segundo os especialistas, três pilares são fundamentais:

1. Terapia hormonal — quando indicada

Ela ajuda a reduzir sintomas vasomotores e estabilizar o humor, o que já devolve parte da qualidade de descanso.

2. Hábitos que favorecem o sono

A Dra. Ana Paula reforça que pequenas ações diárias modificam o corpo ao longo das semanas: ambientes escuros, temperatura mais baixa, rotina regular, redução de cafeína e álcool, e exercícios físicos longe do período noturno.

3. Terapia cognitivo-comportamental para insônia

Uma das abordagens mais eficazes, principalmente para quem já sofre há meses ou anos com noites fragmentadas.

Quando é hora de procurar ajuda?

A insônia que persiste por semanas e começa a interferir no funcionamento diário — humor, memória, ansiedade, irritabilidade — deve ser avaliada por um profissional. “Se o sono está afetando a vida, é hora de procurar um ginecologista ou um médico do sono”, conclui o Dr. Paulo Reis.

A menopausa é uma fase inevitável, mas o sofrimento não precisa ser. Com diagnóstico correto, acompanhamento e estratégias adequadas, é possível recuperar noites mais tranquilas — e acordar de manhã com a sensação de que, enfim, o corpo descansou.