Comportamento
O avanço feminino que está mudando o trânsito em Curitiba

Por muitos anos, o universo dos aplicativos de transporte foi visto como um espaço quase exclusivamente masculino. Mas, aos poucos, a rotina urbana começa a ganhar novos contornos. Em Curitiba, o crescimento de plataformas voltadas para o público feminino mostra que as mulheres estão assumindo o volante — e, ao fazer isso, reescrevem histórias, criam redes de proteção e inspiram outras a trilhar o mesmo caminho.
Ao mesmo tempo, elas ocupam um território que, por muito tempo, não parecia feito para recebê-las, revelando que segurança, acolhimento e representatividade podem, sim, coexistir com tecnologia e mobilidade.
O retrato nacional e a guinada feminina
Entre 2022 e 2024, o número de brasileiros trabalhando por meio de aplicativos cresceu significativamente. O avanço chamou atenção não apenas pelo volume, mas pela velocidade com que as mulheres passaram a entrar nesse mercado. No Sul do país, a mudança é ainda mais perceptível: enquanto os homens continuam sendo maioria, é a força feminina que cresce de forma mais acelerada, dobrando ritmos, rompendo barreiras e ocupando posições que antes pareciam inatingíveis.

De 36 mil trabalhadoras para 48 mil, elas passam a desenhar uma tendência que já não pode ser ignorada — a de que dirigir virou também uma ferramenta de autonomia financeira e emocional.
O impacto dos apps voltados para elas
Em Curitiba, iniciativas criadas especificamente para o público feminino têm se destacado e ampliado o debate sobre segurança nas viagens. Uma das primeiras a abrir portas foi a Drivers Mulheres, fundada por Cristiane Bernardes e Ana Maria Wisniewski. Desde o início, a proposta era simples: permitir que passageiras escolhessem viajar com motoristas mulheres. A ideia, que surgiu da percepção de Ana ao dirigir para outras mulheres, tinha um ponto comum em quase todas as corridas: o desejo por segurança, acolhimento e tranquilidade.
Segundo as fundadoras, o impacto foi imediato. A plataforma, que começou com poucos milhares de usuárias, explodiu nos últimos anos. Hoje, reúne cerca de 100 mil clientes e mais de 800 motoristas, mostrando que o transporte também pode ser um espaço de cuidado, sem abrir mão de eficiência ou tecnologia. Cristiane destaca que o crescimento está diretamente ligado à confiança que as mulheres têm umas nas outras, e que isso cria uma dinâmica completamente diferente dentro dos carros — mais humana, mais gentil, mais segura.
Quando segurança vira prioridade: o modelo da HooH
Outra plataforma que tem apostado na força feminina em Curitiba é a HooH. O CEO, Roger Duarte, afirma que a empresa nasceu com a preocupação de oferecer às passageiras a escolha de viajar com motoristas mulheres, criando uma categoria exclusiva para elas. A lógica é simples: muitas mulheres se sentem mais seguras ao serem conduzidas por outra mulher, principalmente à noite ou em trechos mais isolados da cidade.
Além disso, a plataforma adotou um diferencial que tem atraído cada vez mais novas motoristas: elas recebem uma porcentagem maior por corrida — 81% do valor — enquanto os homens ficam com 75%. Para Roger, esse incentivo faz parte de um compromisso com a inclusão. Mesmo representando pouco mais de 10% dos motoristas cadastrados, o crescimento delas é consistente e mostra que ações como essa realmente fazem diferença na decisão de entrar ou permanecer no aplicativo.
Drivers Mulheres: a força de um serviço feito por e para mulheres
A história das fundadoras também revela o quanto iniciativas femininas nascem das próprias vivências. Enquanto dirigia em outras plataformas, Ana Maria ouvia diariamente o mesmo pedido das passageiras: “Queria tanto poder escolher uma motorista mulher.” Foi dessa escuta atenta que nasceu o Drivers Mulheres, pensado como uma resposta real ao medo e à insegurança. E, quando segurança vira prioridade, a fidelidade das passageiras cresce. Hoje, o app não atende apenas mulheres, mas também adolescentes até 14 anos e idosos acompanhados de suas esposas — uma medida pensada para manter o ambiente acolhedor e previsível.
Recomeçar pela estrada: a história de Amélia
Entre as mulheres que encontraram novo rumo ao volante está Amélia Schultz, de 48 anos. Após uma vida dedicada à gastronomia, comandando restaurantes no Paraná e em Santa Catarina, ela viu tudo mudar quando descobriu um tumor no ovário em 2023. O tratamento exigiu cirurgias complexas, internação em UTI e uma recuperação que poderia levar meses. Mas Amélia, inquieta por natureza, sentia que o mundo não podia ficar em pausa enquanto ela se curava.
Assim que o médico liberou a direção, ela tomou sua decisão: se cadastrou em dois aplicativos e encarou a rua como forma de reconstruir rotina, autonomia e autoestima. O começo foi tímido, cheio de limitações físicas, mas aos poucos ela se reencontrou com a própria força. Hoje, Amélia dirige com leveza, faz seus horários e admite sem hesitar que sua renda é superior à que tinha nos restaurantes. A vida, antes marcada por estresse constante, deu espaço para flexibilidade e prazer.
Ela também percebeu a chegada de mais mulheres ao setor. Os grupos de WhatsApp, os encontros descontraídos e o “Clube da Luluzinha” improvisado entre motoristas criam laços que extrapolam o trabalho. Ainda assim, Amélia reconhece que o número de mulheres ao volante ainda é pequeno — algo que, segundo ela, interfere na experiência das passageiras. “Elas preferem viajar com mulheres. Sentem-se mais seguras. E quanto mais de nós estiver na rua, melhor para todo mundo.”
Um movimento que vai além do trânsito
O avanço feminino no transporte por aplicativo não é apenas estatística — é uma mudança cultural. É sobre mulheres que enfrentam desafios, constroem redes de apoio e ocupam espaços que antes pareciam distantes. É sobre transformar mobilidade em liberdade. E, se depender de quem já está na rua, dirigindo dia após dia, o futuro desse mercado vai ter cada vez mais perfume de coragem feminina.

Social Midia e crítica de cultura pop, Renata domina o mundo das fofocas e novelas como ninguém. Com uma trajetória em grandes portais de entretenimento, ela traz uma visão divertida e crítica sobre os bastidores do universo das celebridades e das tramas de novelas. Renata é conhecida pelo seu tom bem-humorado e envolvente, que leva os leitores a se sentirem parte dos acontecimentos, discutindo os detalhes de suas novelas favoritas e compartilhando curiosidades imperdíveis das estrelas.




