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Comportamento

Avanço mais lento no controle da AIDS acende alerta mundial no 1º de dezembro

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Resumo

• O Dia Mundial de Luta contra a AIDS segue essencial, já que o ritmo global de combate ao HIV desacelerou e milhões ainda vivem sem acesso ao tratamento.
• A infectologista Lenice do Rosário de Souza destaca avanços brasileiros no diagnóstico precoce, que melhora a evolução clínica dos pacientes.
• O estigma continua afastando pessoas dos serviços de saúde, atrasando o início da terapia e aumentando complicações.
• O perfil da epidemia mudou ao longo das décadas, com aumento recente de casos entre homens de 39 a 49 anos e populações não brancas.
• A prevenção combinada e o financiamento contínuo são pilares para manter a resposta ao HIV eficaz, garantindo acesso, tratamento e estabilidade aos pacientes.

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Criado em 1988 pela Organização Mundial da Saúde, o Dia Mundial de Luta contra a AIDS, celebrado em 1º de dezembro, permanece como um marco fundamental na agenda da saúde pública internacional. Nasceu em um período de fragilidade, quando o HIV se espalhava rapidamente e as respostas governamentais ainda eram insuficientes. Trinta e sete anos depois, a relevância da data não diminuiu: os números mais recentes da UNAIDS mostram que, em 2024, 40,8 milhões de pessoas viviam com HIV, com 1,3 milhão de novas infecções e 630 mil mortes relacionadas à AIDS.

Apesar dos avanços científicos e do impacto positivo do acesso ao tratamento — que evitou cerca de 27 milhões de mortes desde o início da epidemia — o ritmo global de combate ao HIV está mais lento. Metas internacionais correm risco devido a cortes de financiamento e desigualdades que seguem moldando quem vive e quem morre em decorrência da doença.

O papel do diagnóstico precoce e os avanços brasileiros

Em conversa concedida à Rádio Unesp, a infectologista Lenice do Rosário de Souza, professora da Faculdade de Medicina de Botucatu e diretora do ambulatório de infectologia do Hospital das Clínicas da Unesp, destaca que o Brasil tem avançado especialmente no diagnóstico. Segundo ela, a ampliação dos testes em toda a rede de saúde e a melhoria no acolhimento dos pacientes têm feito diferença para quem busca atendimento. “Quanto mais precocemente se faz o diagnóstico, melhor é a evolução esperada para o doente”, afirma.

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Mesmo com essa ampliação, o acesso aos serviços ainda esbarra em fatores sociais. O estigma segue como um obstáculo real, afastando pessoas dos postos de saúde e atrasando o início da terapia antirretroviral. Para a especialista, o preconceito — silencioso, estrutural e profundamente arraigado — cria um ciclo perigoso: quem evita o atendimento descobre a infecção tardiamente, adere menos ao tratamento e enfrenta mais complicações clínicas.

As mudanças no perfil da epidemia ao longo das décadas

Desde que os primeiros casos foram registrados, em 1981, o perfil das pessoas vivendo com HIV transformou-se de forma significativa. Nos anos iniciais, a doença estava concentrada principalmente entre homens que faziam sexo com homens. Na década de 1990, o aumento de casos entre usuários de drogas injetáveis alterou esse cenário, ampliando infecções entre mulheres e, consequentemente, elevando a transmissão vertical — quando o vírus passa da mãe para o bebê durante a gravidez, o parto ou a amamentação.

Hoje, observa-se um novo movimento. Lenice do Rosário de Souza explica que houve crescimento de casos entre homens que fazem sexo com homens na faixa dos 39 aos 49 anos, além de aumento expressivo entre pessoas não brancas. Para ela, essa tendência reflete desigualdades persistentes: parte da população preta e parda ainda recebe o diagnóstico mais tarde e enfrenta mais barreiras para iniciar o tratamento, o que interfere diretamente na evolução da doença.

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Prevenção combinada: mais opções, mas pouca informação

O enfrentamento ao HIV evoluiu muito desde que o preservativo era praticamente a única forma de prevenção. Hoje, a chamada prevenção combinada reúne estratégias que incluem o uso de preservativo, testagem regular, redução de danos e métodos medicamentosos, como a PEP (pós-exposição) e a PrEP (pré-exposição).

Segundo Lenice de Souza, o principal desafio não está na oferta dessas ferramentas, mas no conhecimento. “A população precisa saber das diversas formas de prevenção, especialmente da prevenção medicamentosa”, enfatiza. As barreiras de acesso à informação se tornam tão prejudiciais quanto a falta de medicamentos, mantendo parte da população vulnerável a infecções que poderiam ser evitadas.

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Financiamento: o elo que sustenta todas as etapas do cuidado

Manter o tratamento eficaz depende de algo que nem sempre aparece nas campanhas de conscientização: recursos financeiros contínuos. Diagnóstico, monitoramento laboratorial, disponibilidade de antirretrovirais e acompanhamento clínico exigem investimento constante. Para especialistas, quando o financiamento oscila, toda a estrutura de cuidado se fragiliza — e os resultados aparecem nas estatísticas.

Lenice do Rosário de Souza lembra que o Brasil mantém, desde 1996, um dos programas mais sólidos de acesso gratuito ao tratamento. Apesar de desafios pontuais, o sistema ainda funciona de maneira consistente. “Temos uma situação privilegiada, muito mais adequada do que outros países”, afirma. Para ela, a continuidade dessa política pública é o que garante estabilidade e adesão ao tratamento, evitando retrocessos difíceis de recuperar.

*Fonte: Jornal Unesp