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Stranger Things é baseada em fatos reais? As teorias sombrias por trás da série da Netflix

Coisas estranhas acontecem em Hawkins, e não é só com o Demogorgon ou o Mundo Invertido. Embora a cidade seja totalmente inventada, a base da história que acompanha Eleven e seus amigos passa longe de ser apenas fantasia. Por trás das luzes piscando, das crianças de bicicleta e das cenas que parecem saídas de um filme antigo, Stranger Things conversa diretamente com teorias da conspiração, experimentos secretos e projetos reais do governo dos Estados Unidos durante a Guerra Fria.
A série é construída como uma carta de amor aos anos 1980, misturando terror, ficção científica e nostalgia em doses bem calculadas. Mas, à medida que a trama avança, fica claro que as referências não se limitam a filmes de monstros e aventuras adolescentes: há ecos de arquivos confidenciais, operações clandestinas e pesquisas que realmente existiram – e que, por muito tempo, foram negadas ou escondidas do público.
Assim, quando você assiste Eleven com eletrodos na cabeça, sendo testada em um laboratório supostamente “do bem”, a sensação de desconforto vem justamente do fato de que algo parecido já aconteceu fora da ficção.
MKUltra: o projeto real que inspira o laboratório de Stranger Things
Uma das inspirações mais evidentes para o universo da série é o Projeto MKUltra, programa real conduzido pela CIA entre as décadas de 1950 e 1970. O objetivo oficial era desenvolver técnicas de controle mental, manipulação psicológica e formas de influenciar o comportamento humano em um contexto de paranoia total da Guerra Fria.
Na prática, isso significou uma série de experimentos em que pessoas eram submetidas, muitas vezes sem consentimento, ao uso de drogas psicodélicas, como LSD, além de privação de sono, hipnose, estímulos sensoriais extremos e métodos considerados hoje como tortura psicológica. Universidades, hospitais, clínicas e até prisões serviram de cenário para esses testes, que tratavam seres humanos como cobaias em nome da “segurança nacional”.
Em Stranger Things, o laboratório de Hawkins funciona quase como um espelho distorcido do MKUltra. A mãe de Eleven, por exemplo, teria participado de testes com drogas durante a gravidez, em um experimento supostamente científico. A criança nasce com capacidades telecinéticas e passa a ser observada, controlada e explorada pelo governo. A ficção exagera, claro, ao transformar o resultado em poderes sobrenaturais e portais dimensionais, mas a ideia de um Estado testando limites éticos em nome de poder e informação é diretamente inspirada nesses arquivos reais.
Guerra Fria, paranoia e a semente do terror
Para entender por que histórias assim fazem tanto sentido, é importante lembrar o clima da Guerra Fria. Estados Unidos e União Soviética disputavam não só armamentos, mas também informação, tecnologia, influência cultural e qualquer vantagem estratégica que pudesse surgir, por mais questionável que fosse.
Era um período em que o medo de invasão, espionagem e sabotagem fazia parte do dia a dia. Boatos sobre armas secretas, experimentos com crianças, tecnologias desconhecidas e bases subterrâneas se espalhavam com facilidade. Stranger Things se alimenta exatamente desse clima: por trás da narrativa de monstros, há sempre a sensação de que o inimigo pode estar dentro do próprio governo.
A própria figura do doutor Brenner, com seu jaleco branco e sorriso calmo, representa esse lado perigoso de uma ciência sem limites éticos. Ele não é um vilão caricato, mas um homem que justifica qualquer horror em nome de um suposto “grande propósito”, algo muito próximo das justificativas usadas em programas reais como MKUltra.
Teorias da conspiração: do Projeto Montauk ao Mundo Invertido
Além dos arquivos oficiais do MKUltra, Stranger Things bebe em diversas teorias da conspiração que circularam por décadas. Uma das mais citadas pelos fãs é a do chamado Projeto Montauk, que teria sido realizado em uma base militar no estado de Nova York.
Segundo essas teorias, o governo americano teria feito experimentos com crianças e adolescentes dotados de supostos poderes psíquicos, tentando usar habilidades como telepatia, telecinese e visão remota como armas estratégicas. Em algumas dessas histórias, há relatos de abertura de portais para outras dimensões, manipulação de memórias e criação de “soldados psíquicos” capazes de destruir o inimigo sem sequer tocar em uma arma.
Nada disso foi comprovado oficialmente, e o Projeto Montauk permanece no território nebuloso entre a ficção especulativa e a crença popular. No entanto, é justamente esse tipo de narrativa que inspira o conceito do Mundo Invertido: uma dimensão paralela, sombria e hostil, acessível por brechas abertas em experimentos que saíram totalmente do controle.
Dessa forma, mesmo que o Demogorgon e o Vecna sejam criaturas imaginárias, a ideia de que uma experiência militar poderia literalmente “rasgar” a realidade vem dessas lendas sobre bases secretas e pesquisas obscuras.
A estética dos anos 1980 e o medo escondido atrás da nostalgia
Um dos elementos que mais conquistou o público em Stranger Things foi o cuidado na reconstrução da estética dos anos 1980: trilha sonora com synth, bicicletas, fliperamas, pôsteres de filmes e toda uma atmosfera que lembra clássicos como E.T., Os Goonies e as adaptações de Stephen King.
No entanto, a série faz algo interessante: usa essa nostalgia como porta de entrada para falar sobre temas pesados. Enquanto você acompanha as aventuras do grupo de amigos, com dramas familiares, paixonites e brigas na escola, a história revela aos poucos um fundo de abuso de poder, experimentos secretos e manipulação de pessoas vulneráveis.
É como se Stranger Things dissesse: “Sim, a infância pode ser mágica, mas o mundo adulto que está por trás dela é muito mais perigoso do que parece”. Essa dualidade entre o universo doce da adolescência e a crueldade das instituições também está presente em muitos filmes e livros dos anos 1980, o que faz com que a série pareça ao mesmo tempo familiar e profundamente inquietante.
Então, Stranger Things é baseada em fatos reais?
A resposta mais honesta é: não, Stranger Things não é baseada em uma história real específica, e nenhum documento oficial aponta para a existência literal de um Mundo Invertido, de um Vecna ou de crianças com poderes telecinéticos tão extremos quanto os de Eleven.
Porém, a série é fortemente inspirada em eventos reais, documentos desclassificados e teorias da conspiração que nasceram de programas existentes, como o MKUltra, além de narrativas populares sobre bases secretas, experimentos com seres humanos e projetos militares mantidos em sigilo.
Assim, o que vemos na tela é uma mistura de realidade e imaginação: fatos históricos servem como ponto de partida, enquanto o terror sobrenatural entra em cena para amplificar o medo, transformar trauma em metáfora e fazer o público pensar sobre até onde um governo, uma instituição ou uma autoridade pode ir quando não é questionada.
No fim, Stranger Things pode até não ser uma reconstituição literal da realidade, mas a sensação de que “isso poderia ter acontecido de outro jeito” é justamente o que torna a série tão viciante. E talvez esse seja o segredo: por trás dos monstros do Mundo Invertido, o que realmente assusta é o que o próprio ser humano já foi capaz de fazer — sem precisar de nenhuma dimensão paralela.

Social Midia e crítica de cultura pop, Renata domina o mundo das fofocas e novelas como ninguém. Com uma trajetória em grandes portais de entretenimento, ela traz uma visão divertida e crítica sobre os bastidores do universo das celebridades e das tramas de novelas. Renata é conhecida pelo seu tom bem-humorado e envolvente, que leva os leitores a se sentirem parte dos acontecimentos, discutindo os detalhes de suas novelas favoritas e compartilhando curiosidades imperdíveis das estrelas.



