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Ferramenta da UFPR promete mudar a vida de mulheres vítimas de violência doméstica no Brasil

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briga casal - Ferramenta da UFPR promete mudar a vida de mulheres vítimas de violência doméstica no Brasil

Em um momento em que a violência contra a mulher cresce silenciosamente dentro das próprias casas, a Universidade Federal do Paraná desenvolveu uma iniciativa que promete ser um divisor de águas na forma como vítimas de relacionamentos abusivos conseguem pedir ajuda e se proteger. O projeto “Eu Decido”, criado no Departamento de Saúde Coletiva em parceria com o Grupo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Território, Diversidade e Saúde (TeDis), dá origem a uma plataforma digital pensada para orientar e acolher mulheres que vivem situações de violência praticada por parceiros íntimos.

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A ferramenta, que será disponibilizada ao público em janeiro, passou por testes cuidadosos e pela escuta de mulheres atendidas na Casa da Mulher Brasileira. “Desenvolvemos o protótipo do ‘Eu Decido’ em Curitiba e fizemos uma rodada de grupos focais com mulheres atendidas na Casa da Mulher Brasileira. Elas fizeram algumas sugestões”, explica o coordenador do projeto, professor Marcos Claudio Signorelli. A partir dessas contribuições, a equipe reformulou o modelo inicial e avançou para a versão atual, mais robusta e sensível às realidades brasileiras.

Um modelo internacional adaptado para as dores brasileiras

Embora se apoie em plataformas semelhantes utilizadas em países como Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Quênia, o “Eu Decido” foi profundamente adaptado para o contexto nacional. Desde 2018, a UFPR desenvolve pesquisas para entender como esse tipo de apoio digital poderia funcionar no Brasil e quais barreiras precisam ser enfrentadas por mulheres que convivem com violência.

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Esses estudos mostraram que a ferramenta realmente funciona: “O uso dessa plataforma conosco na versão 1.0, ao longo de alguns meses, comprovou ajudar as mulheres a tomarem a decisão de como se manterem mais seguras em seus relacionamentos, ou como planejar de forma segura o rompimento”, destaca Signorelli.

Uma rede interdisciplinar para cuidar, orientar e fortalecer

O desenvolvimento da plataforma envolve profissionais de saúde coletiva, comunicação, tecnologia da informação e direitos humanos, além de pesquisadores das cinco regiões brasileiras e de universidades internacionais. O objetivo é garantir que o “Eu Decido” seja acolhedor, simples, seguro e fácil de usar — especialmente para mulheres que não têm acesso constante a informações confiáveis.

Desde 2024, com financiamento do CNPq e do Ministério da Saúde, o projeto ampliou sua atuação para novos territórios, ouvindo mulheres e profissionais da Casa da Mulher Brasileira em Campo Grande (MS) e Boa Vista (RR), além de equipes do SUS em Paranaguá (PR). Nesses locais, vítimas tiveram acesso à ferramenta e sugeriram ajustes que resultaram na versão 2.0, ainda mais intuitiva e precisa.

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Entre as novidades está o violentômetro, um recurso que ajuda a identificar a gravidade do relacionamento abusivo. “Nós criamos um violentômetro, que possibilita avaliar o risco que a vítima está correndo, e realizar alguns direcionamentos a partir dessa avaliação”, explica Signorelli.

Quando a tecnologia ajuda a reconhecer o que a violência tenta esconder

O “Eu Decido” guia a usuária por etapas que a ajudam a perceber sinais sutis — e muitas vezes mascarados — de abuso. O ciúme extremo, o controle sobre o tempo e as atividades da parceira, a vigilância constante e a superproteção são exemplos de comportamentos frequentemente confundidos com cuidado ou insegurança amorosa. A plataforma ajuda a desmontar esses mitos e a nomear o que muitas mulheres têm dificuldade de enxergar sem apoio.

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O sistema também explica que a violência não é apenas física. Pode ser psicológica, moral, sexual ou patrimonial, e cada uma delas deixa marcas profundas, muitas vezes invisíveis.

Além de identificar riscos, o “Eu Decido” ajuda a criar um plano de segurança personalizado, orienta sobre como buscar ajuda e apresenta os recursos disponíveis no território da vítima.

A urgência por ferramentas que salvem vidas

Os dados brasileiros mostram por que iniciativas como essa são tão necessárias. Em 2025, 3,7 milhões de mulheres sofreram violência, segundo o DataSenado. Em 71% dos casos, crianças presenciaram as agressões, o que aprofunda o trauma familiar. Outro dado alarmante: 40% das vítimas não receberam ajuda de nenhum adulto — uma omissão que representa quase 700 mil casos.

A maioria das mulheres não procura apoio formal por medo de retaliação, falta de acolhimento ou preocupação com os filhos. Assim, apenas 11% recorreram ao Ligue 180.

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No Paraná, a realidade também é dura: entre janeiro e outubro, foram registrados 199 mil casos, o equivalente a 654 mulheres agredidas por dia. Feriados prolongados, festas e períodos de convivência intensificada com o agressor tendem a aumentar o risco.

“É um grande desafio, mas nosso objetivo é ser simples e acessível. Que seja mais fácil para todas as pessoas, e principalmente para as mulheres que não têm acesso às informações”, reforça a jornalista Dra. Priscila Tobler Murr, integrante do projeto.

Onde buscar ajuda imediatamente

Mesmo com ferramentas digitais importantes, é essencial que, em qualquer situação de risco, a vítima acione os canais formais de proteção:

Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher
Disque 190 – Polícia Militar
Delegacia da Mulher de Curitiba: (41) 3219-8600
Casa da Mulher Brasileira de Curitiba: (41) 3221-2701 / (41) 3221-2710
Patrulha Maria da Penha – Disque 153