Connect with us

Comportamento

Alimentação saudável ou obsessão? Novo estudo revela quem corre maior risco de desenvolver ortorexia,

Published

on

comendo salada triste 1 - Alimentação saudável ou obsessão? Novo estudo revela quem corre maior risco de desenvolver ortorexia,
Resumo

• A ortorexia nervosa descreve a obsessão pela alimentação “pura”, que transforma cuidados saudáveis em rigidez, culpa e isolamento social.
• Estudo com mais de 1.300 brasileiros identificou perfis mais vulneráveis, especialmente mulheres, desempregados e pessoas com histórico de transtornos alimentares.
• A pesquisa também mostrou que o interesse saudável pela comida existe, mas é marcado por equilíbrio, idade mais avançada e hábitos sem extremismos.
• A prática de exercícios apareceu tanto em quem tem relação leve quanto em quem desenvolve obsessão, revelando a fronteira sutil entre saúde e excesso.
• Especialistas reforçam que comer bem inclui afeto, cultura e convivência — e que a verdadeira saúde nasce do equilíbrio entre nutrição, mente e vida social.

Anúncios

Nos últimos anos, falar sobre bem-estar virou um hábito tão comum quanto acompanhar novelas, fofocas de celebridades ou descobrir o perfume da moda. A ideia de manter o corpo forte, a pele bonita e a mente equilibrada passou a fazer parte das conversas do dia a dia. Porém, entre tantas tendências de vida saudável que circulam nas redes, há um fenômeno silencioso que tem chamado a atenção de médicos e pesquisadores: a obsessão pela alimentação “limpa”, “pura” e impecavelmente saudável.

Essa relação extrema com a comida recebeu o nome de ortorexia nervosa, um comportamento que, apesar de não ser oficialmente classificado como transtorno alimentar, já preocupa especialistas pela rigidez, pela ansiedade e pelas consequências emocionais que provoca. O que começou como um cuidado vira, aos poucos, um aprisionamento.

comendo salada triste 1 - Alimentação saudável ou obsessão? Novo estudo revela quem corre maior risco de desenvolver ortorexia,

Um novo estudo publicado na Psychology, Health & Medicine analisou 1.359 brasileiros fisicamente ativos e conseguiu mapear características que tornam algumas pessoas mais vulneráveis a esse comportamento — e outras naturalmente mais equilibradas na forma de se alimentar. A pesquisa reuniu universidades renomadas, como a Unesp, a UFJF e o Unipam, com apoio da FAPESP, e ajuda a explicar por que a obsessão pelo “saudável” cresce em um país que valoriza tanto a estética.

Quando a busca por pureza vira sofrimento

De acordo com o pesquisador Wanderson Roberto da Silva, da Unesp, que coordenou o estudo, a ortorexia se caracteriza por uma vigilância intensa e constante sobre tudo o que a pessoa come. Ele explica que, nesse padrão, surgem comportamentos como excluir radicalmente alimentos que não se encaixam na ideia de “puros”, rejeitar produtos industrializados, evitar açúcar e até abolir grupos como glúten ou laticínios sem necessidade clínica.

Segundo Silva, essa rigidez pode se instalar aos poucos, até que a ideia de comer de forma saudável se transforma em um conjunto de regras inflexíveis. “A alimentação vai muito além de uma lista de permitidos e proibidos. Envolve cultura, afeto e convivência. Quando existe uma obsessão pela pureza alimentar, surgem desequilíbrios importantes — tanto nutricionais quanto emocionais”, afirma.

Anúncios

A contradição aparece justamente no ponto em que a busca por saúde provoca o efeito oposto: carência de nutrientes, culpa exagerada e um afastamento social, já que a pessoa passa a evitar qualquer situação que envolva comida fora do seu controle.

Quem está mais vulnerável à ortorexia

O levantamento revelou que a ortorexia apareceu com maior frequência entre mulheres, pessoas desempregadas, indivíduos com histórico de transtornos alimentares e quem segue dietas extremamente restritivas por objetivos estéticos. O peso das pressões sociais, especialmente no Brasil, onde a imagem corporal é exaltada, parece influenciar bastante.

Silva ressalta que o desemprego, por exemplo, contribui para esse cenário ao aumentar o estresse e bagunçar a rotina alimentar. “Identificamos uma rigidez cognitiva forte, um desejo de controle que pode gerar ansiedade, culpa e até o isolamento social”, explica.

Anúncios

Um ponto curioso do estudo foi perceber que tanto quem tem uma relação equilibrada com a comida quanto quem tem ortorexia pratica exercício físico com frequência. A diferença está no propósito: enquanto alguns enxergam o movimento como cuidado, outros o transformam em mais uma regra rígida aliada à preocupação estética.

O outro lado: quando o interesse por alimentação saudável é realmente saudável

O estudo também identificou o perfil de quem busca uma alimentação nutritiva de maneira leve e funcional. Essas pessoas tendem a ser um pouco mais velhas, praticam exercícios de forma regular, não recorrem a cirurgias estéticas e usam suplementos com moderação.

É uma relação mais madura com o próprio corpo, em que comer bem significa nutrir e não punir.

Anúncios

Equilíbrio: o ingrediente que falta em muitas rotinas

Silva destaca que a ideia de “alimentação perfeita” é uma ilusão que abandona tudo o que compõe o ato de comer — encontros, tradições, afetos e até pequenos prazeres ocasionais. Ele reforça que a saúde verdadeira inclui flexibilidade e acolhimento.

“Uma alimentação saudável não alimenta apenas o corpo, mas também a mente e as relações sociais”, lembra o pesquisador. Isso não significa abusar de alimentos ultraprocessados, mas entender que a comida também cumpre funções emocionais e culturais.

Equilíbrio é a palavra-chave — e talvez aquela que mais falte em um mundo onde filtros, padrões e comparações visuais transformaram o ato simples de comer em um campo de pressão constante.

Anúncios

Quando cuidar deixa de fazer bem

A ortorexia ainda é pouco discutida, mas já faz parte da realidade de muitas mulheres que se sentem cobradas a performar a saúde perfeita. Por isso, debates como esse ajudam a reconhecer sinais, buscar ajuda e reconstruir uma relação mais gentil com a comida.

Porque saúde, no fim das contas, não está apenas no prato — está também na leveza com que encaramos nossas escolhas.