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Moda

Patricia Viera celebra 50 anos na moda e revela a sucessão da filha em nova fase inspiradora

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São quatro e meia da manhã quando Patricia Viera desperta — sempre no mesmo horário, sempre com o mesmo ritual. Antes que o sol comece a disputar espaço com as luzes do Leblon, ela já está dedicada ao rosário, uma rotina silenciosa que se estende por duas horas e que, segundo ela, tornou-se um porto de fé desde a pandemia.

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Essa devoção matinal não é apenas um hábito: é um reflexo direto da intensidade com que vive, cria e se relaciona com a própria história. Dentro do ateliê, enquanto organiza cabides com a precisão de quem entende profundamente o valor da técnica manual, ela deixa transparecer a autenticidade que moldou meio século de carreira.

Leblon, irmãs célebres e a formação de um olhar único

Patricia cresceu entre mulheres que, cada uma à sua maneira, ajudaram a moldar o imaginário da moda brasileira. Filha de Carlos Alberto Vieira e da professora de ioga Vera de Magalhães, descobriu cedo a força que existe em assumir sua própria imagem — mesmo quando o mundo tentava apontar suas imperfeições. Quando sofreu bullying por conta do estrabismo, foi da mãe que ouviu a resposta que transformaria sua autoestima: “Só usa óculos quem é muito inteligente”. A convicção materna viraria armadura.

Suas irmãs, as icônicas Andrea Dellal e Cristina Viera-Newton, já brilhavam nas passarelas e no circuito internacional. Andrea, musa fashion e socialite casada há décadas com Guy Dellal, é mãe da designer Charlotte Olympia, da modelo Alice Dellal, do galerista Alexander Dellal e de Max. Cristina, DJ reconhecida, é mãe de Harley Viera-Newton. Patricia, porém, nunca tentou imitá-las. Preferiu observar, absorver e, aos poucos, construir um estilo próprio — silencioso, elegante, quase cinematográfico.

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Londres dos anos 70: o nascimento da estilista

A primeira virada de chave veio quando, aos 18 anos, se tornou mãe de Augusto e decidiu viver em Londres. Lá, sob o olhar protetor das irmãs e o cenário vibrante da década de 1970, descobriu uma vocação que ainda não sabia nomear. Entrou no ateliê de Sally Mee, onde começou como auxiliar e logo se tornou assistente. Em meio a rendas, tecidos e cortes sob medida, compreendeu que o couro — ainda visto como material rígido — poderia ganhar poesia.

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Essa fase marcaria para sempre sua estética. Não por acaso, sua coleção de verão 2026 retorna justamente à Londres que a acolheu, combinando inspiração e memória afetiva. “Sinto-me em casa toda vez que chego ao aeroporto de Heathrow”, costuma dizer. É como se cada peça resgatasse a jovem que descobriu a própria força em uma cidade que ainda pulsava punk, couture e liberdade.

O retorno ao Brasil e o encontro que redefiniu a moda carioca

Após seis anos na capital inglesa, Patricia regressou ao Rio e reencontrou seu destino através de Mauro Taubman, empresário visionário da Company. O encontro foi quase acidental: enquanto esperava por ele, começou a arrumar a loja sem que ninguém pedisse. Este olhar afiado para “o errado”, como ela descreve, impressionou Mauro — e se transformou em 17 anos de parceria criativa. Ali, Patricia aprimorou o rigor, a precisão e o desejo de excelência que hoje permeiam cada detalhe de seu trabalho.

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O couro como arte: o nascimento da marca Patricia Viera

A segunda grande revolução aconteceu nos anos 1990. Recém-separada, mãe de Andrea e Marina, decidiu mergulhar de vez no universo do couro. O acaso — ou a intuição — conduziu o caminho: uma encomenda não entregue por uma fábrica fez com que Patricia precisasse produzir, às pressas, uma série de jaquetas. Ao lado de Luiz Moreira, então namorado e hoje marido, improvisou uma confecção e descobriu o encanto da criação manual. Assim nasceu a marca que levaria seu nome ao mundo.

O reconhecimento internacional veio rápido. Em uma visita ao Rio, Robert Forrest — na época viajando com Mario Testino — visitou sua fábrica e pediu para levar algumas peças. Dez dias depois, Patricia já estava em Nova York, conversando com compradores da Barneys. A partir dali, suas criações começaram a circular por vitrines de Colette, Paul Smith e Joyce, além de ganhar espaço no closet de mulheres de diferentes culturas e estilos. Andrea Dellal traduz essa genialidade com precisão carinhosa: “Ela faz do couro o que quer”.

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Entre fábrica, família e fé: a marca que atravessa gerações

Hoje, a marca Patricia Viera se divide entre o ateliê no Leblon e o Iguatemi, em São Paulo. No desfile de verão 2026, a estilista anunciou a filha mais velha, Andrea Viera Baptista, como diretora — um movimento que ela descreve como “processo natural”. A decisão, porém, veio acompanhada de reflexões profundas sobre identidade e pertencimento. Andrea, que cresceu sendo chamada de “filha da Patricia Viera”, precisou viajar, trabalhar fora e fazer terapia até compreender que, apesar dos desafios, seu lugar era ao lado da mãe. “Com o tempo, percebi que não me realizaria 100% se não voltasse para casa”, afirma.

Nos bastidores, quem costura a harmonia é o stylist Felipe Veloso, apontado como “moderador” entre as duas. Ele destaca o rigor, a ética e o cuidado obsessivo que Patricia dedica a cada etapa — da família ao menor pedaço de couro guardado no ateliê. Andrea Marques, estilista e amiga de longa data, resume: “Ela é amiga até debaixo d’água”.

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A fé que sustenta e transforma

Após sofrer um infarto em 2023, Patricia passou a enxergar sua espiritualidade com ainda mais intensidade. Para ela, a fé é abrigo — e também partilha. Além do rosário diário, conduz um grupo no WhatsApp que reza com ela às madrugadas. “Jesus me ouviu”, diz, com a segurança de quem encontrou na devoção um caminho de força, serenidade e recomeço.

Patricia Viera celebra 50 anos de carreira sem olhar para trás com nostalgia, mas com a firmeza de quem entende que legado é um presente construído todos os dias — antes do amanhecer, entre agulhas, memórias e a fé que a acompanha desde sempre.

Fonte: Ela/Oglobo